sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Transito da capital, trânsito de periferia

Cresci num sítio onde quando passava um carro de determinada cor e marca era o pai de "X" ou a mãe de "Y" ou era o senhor "XPTO" que de uma maneira ou de outra conhecíamos. Tirei a carta de condução já na capital e lá ver alguém conhecido na estrada era difícil, tão difícil que era motivo de orgulho de uma pessoa atenta habituada a esta mordomia da província. Na terra do Bocage ou na do Convento ou na do Marquês de Pombal já encontrava com mais frequência, mas nada comparado com a magia do encontro da infância - só alguns colegas de trabalho de quando em vez ou alguns pais de amiguinhos da Peninha.

De volta às redondezas de onde cresci, faço agora alegremente um trajeto matinal para o emprego e para deixar a Peninha no colégio onde não há caminho alternativo: só há um caminho a fazer. Assim, indo sempre pelo mesmo caminho, já comento a senhora da bicicleta, a rapariga da mota, o senhor do Mercedes, a senhora do Mini Branco, o meu chefe que às vezes se cruza comigo, outras pessoas que conheço de vista. Quando se aproxima o verão, também começo a encontrar o rapaz da mota que agora por estes dias deve estar no desemprego, bem como os nadadores salvadores que passavam por mim de mota fardados a preceito. Também na altura do verão cheira a bolas de Berlim numa parte do caminho. Destes anónimos conhecidos, até já sei onde alguns deles trabalham pelas partes em que nos cruzamos.

Ao deixar a Peninha na escola há já uma série de mães com quem troco algumas palavras que deixam o PenaMan pasmado. Falamos de rotinas e trivialidades que nos alimentam a maternidade. Gosto mais desta periferia.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Solidariedade da época

Fala-se de solidariedade o ano todo, mas fala-se muito mais de solidariedade no Natal. Este ano na escola da Peninha pediram brinquedos "daqueles que andam lá por casa e já não são de brincar" para oferecer a uma instituição de solidariedade. Os brinquedos devem estar em boas condições e ir embrulhados e com indicação da idade adequada e género.

Eu já tinha começado a "preparação" de Natal no quarto das meninas cá de casa, até porque com os projetos megalómanos de prendas que quero oferecer às duas preciso de espaço no quarto. E é uma desculpa para destralhar um bocado, que o PenaMan não gosta de o fazer.

Ontem à noite estive duas horas e meia a embrulhar originalmente uma série de DVDs e livros que ninguém quer saber deles cá em casa. Embrulhei-os como se fossem para a criançada cá de casa. Ficaram bonitos e foi de coração: espero que façam muito felizes os novos donos!

Solidariedade 365 dias por ano

Solidariedade e voluntariado são duas palavras que gosto muito. Antes só as conseguia aplicar na teoria, felizmente hoje em dia consigo pôr na prática embora não tanto quanto desejaria, mas o suficiente para ficar satisfeita.

CAUSA SIMÃO
O Simão é um menino pequenino que tem uma série de problemas de saúde. Tem a sorte de ter uma família fantástica que se une para ajudá-lo. Foi uma colega de trabalho que fez a habitual inclusão no Facebook da minha pessoa no grupo. Eu geralmente olho e passo à frente, mas vi que o Simão além de ser mais pequeno que a Peninha, é da zona onde moro. Vi que se dedicavam à recolha de tampas de garrafas de plástico, caricas e rolhas para ajudar a custear as terapias várias que o Simão faz para ter uma qualidade de vida aceitável dentro das possibilidades. E as possibilidades são todos os dias sufocantes para a Mãe do Simão, que vai contando as evoluções positivas e menos positivas do Simão, mas com sentimento: não esconde os receios e o que lhe custa aceitar quando escreve, mas sempre que me encontro com ela acho-a uma maravilhosa força da Natureza. E à mãe dela e à irmã dela e respetivos. E até ao irmão do Simão, que não tem menos mérito que todos os outros.

Para mim, a história das tampinhas era um flop. Nunca acreditei na conversa das tampinhas que se transformavam por atos de solidariedade em cadeiras de rodas. Mas a verdade é que agora vejo, acredito e ajudo no que posso. Na nossa política de diminuição da pegada ecológica não é fácil ter caricas ou tampas plásticas, mas vamos recolhendo em alguns bares e na nossa família e ajudamos na separação: eu vou até lá separar tampas, já levei a minha mãe e a minha sogra e o PenaMan fica com a Peninha sem stresses para eu poder ir. Se podia ir ao ginásio naquelas horas que lá estou? Podia! Mas gostei de conhecer aquela gente boa, das melhores pessoas que já conheci. Tias e vizinhas velhotas que ali se juntam ao final do dia e estão horas sentadas a separar milhões de tampas que depois vão de camião e voltam transformadas em ajuda para o Simão. Todos estão ali de coração e não imaginam como é bom de ver, sentir e participar.

Decidi ir ajudar porque desde que me mudei para onde moro agora que as pessoas que conheço são clientes da empresa onde trabalho, da área onde trabalha o meu marido, pais dos coleguinhas da escola da Peninha ou pessoas que lá trabalham e pouco mais. Por isso queria ampliar a minha pequena rede de pessoas próximas, dentro do possível. Fui recebida inicialmente com alguma apreensão: afinal ninguém me conhecia e quando a ajuda é grande o pobre desconfia. Mas agora quando lá vou quase me sinto da família! Nem sempre consigo ir, mas sempre que vou, quando me venho embora vejo na cara daquelas pessoas a expressão sincera do agradecimento que verbalizam. E também eu vou grata por me deixarem ajudar quem precisa da minha modesta ajuda.

E na verdade? Na verdade acredito do fundo do coração que o Simão vai ter uma vida não tão boa como todos desejamos, mas melhor pelo que todos fazemos por ele. É uma batalha dura esta que a família do Simão, em particular os pais, travam, mas enquanto eu poder ajudar na luta, lá estarei!

Demagogia sobre Educação

Das tarefas mais interessantes e desafiantes que a vida me proporcionou foi, sem dúvida, educar. Nunca tive ambições no campo de educação de adultos, embora tenha gostado muito das experiências de formação que com eles tive. Mas não ponho empenho no moldar da sua educação, porque sei que a mesma não é tão maleável como a de uma criança e, acima de tudo, tento respeitar cada um na sua essência.

Ao longo da minha existência, tive oportunidade de trabalhar com crianças que não me eram nada, que eram filhos de amigos, outras família e, claro está, a Peninha. É impressionante a velocidade a que caiem por terra as teorias todas que temos para com as outras crianças e que depois não conseguimos aplicar às nossas por causa do "amor incondicional" que chega a fazer dos nossos filhos coisas que de tão boas se tornam más.

Mas a minha mais recente ideia sobre educação é que um educador falha sempre porque se preocupa: pensa no que quer fazer com aquele ser em estado moldável (muitas vezes até antes de existir o ser!), que quer que siga determinada religião, que frequente determinado tipo de ensino, que tenha determinada ocupação extracurricular, que se dê com filhos de determinados amigos, enfim, uma infinidade de pensamentos e teorias. Mas a verdade é que o essencial não é falhar: é preocupar. Todos falhamos em alguma coisa, mas muitos de nós não se preocupam com a educação. A educação tem de ser pensada a longo prazo, mesmo que falhe permanentemente a curto e a médio prazo, mas tem sempre de ser pensada e tem de ser uma preocupação permanente, mesmo que se julgue não o ser.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A fábrica do Pai Natal lá de casa

Neste momento estão em cima da bancada de trabalhos da fábrica do Pai Natal lá de casa dois projetos. A bancada foi montada propositadamente para a época que se avizinha, num canto recatado da mais pequena, mas que ainda assim permite partilhar o tempo comum que estamos juntos todos os dias em lazer, na zona de convívio da nossa casa. Um terceiro projetos está ainda numa fase mais embrionária e por isso está ainda em outra divisão.

Embora não queira detalhar muito os projetos por razões emocionais e racionais, as mesmas razões levam-me a partilhar em modo lato os projetos mais avançados. Quem sabe servirá de inspiração para alguém!

*Teatro*
Esta prenda é para a Peninha. Há uma história infantil composta por 4 personagens principais que a mesma adora, fala várias vezes sobre ela e chega a conseguir inseri-la no seu quotidiano. Pesquisei moldes dos bonecos, por sinal 3 são repetidos e por isso facilitaram ainda mais o processo. Construi o primeiro e depois de ver que era o que queria, construi os outros, com calma e auto-crítica q.b.. Usei tecidos, linha de coser e botões e costurei as partes dos ditos sem recurso a máquina. Quando fui construir o quarto personagem, deparei-me que o molde que tinha tirado era muito grande em relação aos outros e uma vez que tem carácter de assustar os outros, tentei diminuir o tamanho - não gostei do resultado e por isso fui pesquisar novo molde e só à segunda tentativa consegui criar o dito personagem.
Surgiu então a questão de como tornar os bonecos - criaturas de 2 dimensões - maneáveis para poderem ser fantoches do teatro. Não queria ter de comprar nada, como já tinha referido no post anterior, por isso acabei por solucionar com canudos de rolo de papel higiénico. Têm bom tamanho para mãos pequenas e são fáceis de adaptar às criaturas.
Quase concluídos que estão todos, falta agora completar pormenores de roupa, tratar dos canudos dos rolos de papel higiénico e colar os bonecos aos respetivos canudos e ainda decidir se vão ou não ter boca porque não queria pintar, mas também não me apetece costurar 3 bocas. Falta também a estrutura do teatro em si, o palco.
Uma vantagem desta prenda julgo que será continuar a estimular a comunicação da Peninha, bem como interação com outras crianças e reforçar a sua autoestima.

*Bonecas de vestir*
Sem recurso a imagens, tentem recuar para a infância onde havia aquelas bonecas de papel que tinham várias roupas que se adaptavam ao corpo. É exatamente isso o que pretendo fazer, mas em vez de papel usar tecido nas bonecas e nos seus vestuários. E através das pesquisas que desenvolvi na internet, decidi construir uma mala para cada boneca e respetivo guarda roupa, por forma a ser um brinquedo completo e organizado por si.
Decidi também que cada uma das meninas da casa teria uma mala, uma vez que elas têm maneiras diferentes de brincar com as bonecas, quer pela diferença de idades, quer pelos feitios de cada uma. Assim este é um projeto a multiplicar por dois e não está ainda tão avançado como gostaria, uma vez que me deparei com alguns imprevistos, de certo modo todos relacionados: tenho de decidir o tamanho da mala, que tem de ser em função do tamanho da boneca. Tirei um molde de boneca da internet e decidi construir a mesma em velcro fêmea para ser mais fácil as roupas, com velcros machos, aderirem. Mas após construir a primeira boneca, apenas com tronco e membros e sem cabeça, surgiu o problema da boneca ser frágil. Ora, as destinatárias do projetos são meninas ambas em idade pré-escolar e por isso as bonecas têm de ser resistentes: de outra forma, elas não vão conseguir brincar e vão desinteressar-se à partida. E a cara ia ser difícil de realizar também. Pensei que as bonecas deveriam então passar de 2 dimensões para 3 dimensões, mesmo que isso implicasse mais trabalho de alfaiate. Fui até um hipermercado e adquiri uma boneca de feltro para construir e vou experimentar se a mesma é adequada ao que pretendo para depois avançar com a mala.

Logo que tenha mais desenvolvimentos, partilho!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A preparar o Natal

Este ano o Natal é sem as crianças da casa na noite e no dia de Natal. Se custa? Honestamente será a segunda vez que acontece e eu levo estes dias como levo todos os outros de ausência: é assim e eu já o sabia. Aceito, porque é justo e correto. E no caso da Peninha: a minha melhor prenda de Natal é tê-la todos os dias do ano a espalhar a sua magia, a ver o seu carinho e a senti-la cá.

Tenho vindo a debater-me com a problemática consumista das prendas de Natal e não queria, agora que ela já percebe melhor as coisas (e ainda para mais faz anos em Dezembro!) dar-lhe um pedaço de borracha chinesa com o nome de Nancy ou Nenuco ou o que seja. Detesto a impertinência do quero isto e aquilo com nomes comerciais pelo meio. E também não queria, não sendo o Natal cá, que treinassem o seu consumismo, mas sim as suas emoções, pois já terão rebentado algures uma série de papel de embrulho e acumulado a um canto um monte de presentes aos quais nem terão olhado com atenção.

Assim, mesmo sob pena do desfecho não ser o que quero, pesquisei prendas de Natal originais e artesanais feitas para crianças fáceis, baratas e agradáveis. Descobri, obviamente, uma série de coisas e como o Natal é já ali, pus mãos à obra, de tal forma que até tenho uma ferida numa das mãos que me obrigou por estes dias a desacelerar... tenho mais uns dias do que o de Natal oficial, mas mesmo assim os projetos são algo ambiciosos e pela sua artesanalidade, morosos.

Objetivos:
- não comprar matérias para realizar os presentes: aproveitei um armário, restos de madeira, restos de tecidos, restos de tintas e restos de embalagens
- fazer algo que não tenham, e ao não ser repetido que brinquem com ele
- fazer algo adaptado à idade
- fazer algo que também eu goste no final e goste de brincar
- fazer algo que promova a brincadeira com outros, mas que simultaneamente seja possível brincar sozinhas
- fazer algo que faça parte atualmente das nossas conversas de dia-a-dia e do seu imaginário infantil
- estimular a minha perícia artesanal e a minha criatividade: não tenho ainda soluções para todas as fases dos projetos, mas não é por isso que os projetos não estão a andar.

Até agora está a correr bem e ainda não tive nenhum contratempo dos que poderiam acontecer: ter de desfazer algo ou ter de destruir algo mal feito. Tentei também convencer as pessoas da família com algum geito e gosto por este tipo de trabalhos a fazerem a sua parte, mas não nos meus projetos, onde apenas e só o PenaMan é consultor técnico.

Em breve mantenho-vos a par!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Hipocrisia...

Luta para que os filhos vivam a 400km do pai, realça em tribunal tudo o que é defeito do pai dos próprios filhos e expões 10 anos de dificuldades de forma a que ela saia imaculada e ele enxuvalhado e marginal...
...
mas sempre que há umas causa pública no facebook, muda a foto de perfil... para Co-De-Rosa da Nonô, para bandeira da França pelo 13 de Novembro.

Sabes uma coisa: Hipocrisia também é um defeito! E não é do pai. És uma vergonha. Esta foi educação grátis, aproveita!