quarta-feira, 1 de julho de 2015

Novos vizinhos

Novos vizinhos é algo que adoro. Vem-me sempre a ideia da americana tarte de boas-vindas e que todos nos vamos dar bem para sempre, os miúdos vão brincar juntos e conversamos a passear cães e blá blá blá... E de facto nunca tive experiências negativas com vizinhos, antes pelo contrário. Cheguei a ter os melhores vizinhos do mundo quando morava em Lisboa.

Quando regressei ao Algarve, o tipo de vizinhos mudou. Não são as pessoas que valem menos que as outras, não se compara isso sequer: é que aqui vivemos numa casa e não num apartamento. Deixámos de ter vizinhos por todos os lados, de poder encontrar roupa perdida junto à entrada do prédio, de ouvir a bimby do vizinho a tocar, de saber se a Dona Prazeres já está de volta da casa do filho porque a persiana está aberta, de ver o carro do vizinho na garagem. Agora, temos dois vizinhos: um de um lado e outro do outro lado. Na verdade são 4: Estrada Nacional, Linha do Comboio, respectivamente à frente e atrás da casa e dos lados um café e uma loja.

No lado do café, moram uns velhotes, ele já leva 98 anos bem medidos e que dão prazer de ver e de poder tentar avaliar o valor da vida pelas suas expressões, em especial pelo olhar. Ela cuida dele com o amor que lhe tem. São os pais dos donos do café e são família para a nossa família desde sempre.

No lado da loja, cujo terreno foi parte do nosso há uns anos, há a loja com a qual partilhamos algumas coisas e de quem utilizamos outras, como o simpático parque de estacionamento. É uma loja específica com um nome que todos sabem o que faz, de cadeia internacional. É uma loja daquelas que achamos que devem ser para lavagem de dinheiro, que aquilo não pode dar para sobreviver, como é que alguém pensa em montar um negócio daqueles... até se passar a ser vizinho deles. Aí sim se vê o quanto eles trabalham e quantas pessoas por ali passam de sol a sol. Até nós, sem o querermos, já tivemos de ser clientes deles e nada temos a apontar, antes pelo contrário. Mas não é vizinhança vizinhança daquela... Não os conhecemos, não sabemos nem nomes nem histórias. Embora no nosso esforço quando arranjamos o nosso lado da sebe, se tivermos tempo e se acharmos necessário, vamos lá dar um jeito do lado deles que assim a nossa casa também fica mais bonita. E até já pus uma planta daquelas que não dão trabalho e reproduz-se como coelhos no canteiro deles à entrada do nosso portão, como quem não quer da coisa.

A loja tem um primeiro andar que só há bem pouco tempo reparei que existia e que dizia Aluga-se. Janelas grandes, um dia desapareceu de lá o papel e começamos a reparar em movimentações diferentes. Fiquei contente e pensei que desta é que era, que íamos ter vizinhos, aquilo não deve dar para loja, ao tempo que estava para alugar aquilo vai é ser para habitação. E lá veio a ideia da tarte, dos miúdos e dos cães. Eu ia estender roupa à açoteia e ficava a olhar a sorrir, à espera que alguém se descuidasse e passasse à janela.

Até ontem, em que em altas horas da noite estávamos em agitado rebuliço a preparar o espaço da festa de aniversário da Peninha-aquela. Já me tinha dito o PenaMan que estavam a por o letreiro luminoso na noite anterior... mas qual a minha desilusão quando ele me diz "Já viste o que é? É a REMAX"

Que pena... já havia ali uma série de imobiliárias... e embora eles vendam a ideia da tarte, dos miúdos e do cão, acho que a vão vender longe dali....

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