Cresci num sítio onde quando passava um carro de determinada cor e marca era o pai de "X" ou a mãe de "Y" ou era o senhor "XPTO" que de uma maneira ou de outra conhecíamos. Tirei a carta de condução já na capital e lá ver alguém conhecido na estrada era difícil, tão difícil que era motivo de orgulho de uma pessoa atenta habituada a esta mordomia da província. Na terra do Bocage ou na do Convento ou na do Marquês de Pombal já encontrava com mais frequência, mas nada comparado com a magia do encontro da infância - só alguns colegas de trabalho de quando em vez ou alguns pais de amiguinhos da Peninha.
De volta às redondezas de onde cresci, faço agora alegremente um trajeto matinal para o emprego e para deixar a Peninha no colégio onde não há caminho alternativo: só há um caminho a fazer. Assim, indo sempre pelo mesmo caminho, já comento a senhora da bicicleta, a rapariga da mota, o senhor do Mercedes, a senhora do Mini Branco, o meu chefe que às vezes se cruza comigo, outras pessoas que conheço de vista. Quando se aproxima o verão, também começo a encontrar o rapaz da mota que agora por estes dias deve estar no desemprego, bem como os nadadores salvadores que passavam por mim de mota fardados a preceito. Também na altura do verão cheira a bolas de Berlim numa parte do caminho. Destes anónimos conhecidos, até já sei onde alguns deles trabalham pelas partes em que nos cruzamos.
Ao deixar a Peninha na escola há já uma série de mães com quem troco algumas palavras que deixam o PenaMan pasmado. Falamos de rotinas e trivialidades que nos alimentam a maternidade. Gosto mais desta periferia.
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